Açores – O seu povoamento antes da data oficial

Açores
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Como recorda um estudo “A data mais consensual da colonização humana dos Açores é 1427”, quando Gonçalo Velho Cabral chegou à ilha de Santa Maria e seguidamente à ilha de S. Miguel. A data oficial do início da colonização do arquipélago é 1449, mas já são conhecidos estudos que defendem que os Açores já eram conhecidos antes, baseados em mapas de 1339 onde as ilhas do Corvo e de S. Miguel já estão assinaladas, embora com nomes diferentes (Corvinaris e Caprara, respetivamente) (Rull et al., 2017).

A análise de pólen e esporos, combinado com a análise do carvão e de fósseis de vários microrganismos preservados em sedimentos acumulados nas lagoas são uma importante fonte de informação sobre ambientes antigos. Em particular, a palinologia (estudo de pólen e esporos) pode fornecer dados para a reconstrução de mudanças da vegetação, história climática e para uma melhor compreensão do impacto humano nos lagos e respetivas bacias.

São feitas recolhas de sedimentos do fundo das lagoas, com uma plataforma de perfuração e, com um sistema de recuperação de sedimentos, obtém-se um registo sedimentar que contém a história ambiental, pelo menos das últimas centenas de anos da ilha.

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Figura 1- Método de recolha de sedimento das lagoas. Fonte: Tese de Mestrado “Pollen and Spores from the Azorean vascular flora and its usefulness in paleoecological reconstructions, 2020”

Estudos realizados nas lagoas dos Açores (e.g. lagoa azul na ilha de S. Miguel), revelam que esta ilha já era habitada por volta de 1287, cerca de 150 anos antes da data oficial do seu povoamento, logo a seguir à última erupção vulcânica conhecida. Estudos semelhantes foram realizados na ilha da Terceira, Pico e Flores e foram obtidas as mesmas conclusões.

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Figura 2- Lagoa das Sete Cidades. Fonte: byAçores, Bruno Sousa

No início destes registos sedimentares, nas datas mais antigas, esperava-se a presença de florestas nativas altamente desenvolvidas antes da chegada dos portugueses, seguida de grandes mudanças na cobertura vegetal devido a atividades antrópicas, conforme descrito em documentos históricos que relatam a ocupação portuguesa no arquipélago dos Açores. Contudo, e contrariamente às expetativas dos investigadores, encontrou-se no registo de pólen, perturbações humanas da paisagem, possivelmente na forma de queimadas locais e criação de animais, pré-portuguesa, apoiando a ocupação humana, anterior à data oficial portuguesa.

O objetivo de novos estudos é reconstruir a dinâmica da vegetação no arquipélago dos Açores em geral ao longo dos últimos 1000 anos e definir os principais fatores de mudança na ecologia das ilhas. Tudo isto, ajuda a compreender como foram modeladas as atuais paisagens e comunidades agrícolas dos Açores.

Estudar tempos passados com condições ambientais (clima, vegetação, influência humana, etc.) semelhantes aos do presente, pode ser de grande utilidade para a previsão de mudanças ambientais no futuro. No contexto atual de aquecimento global, estudar o clima do passado ajudará a entender o clima do presente e do futuro. Contribuirá também para definir as medidas de prevenção adaptação que devemos adotar, tanto no âmbito social como no económico.

Artigo escrito pela bióloga Nicole Aguiar da equipa da Picos de Aventura.

Referências:

van Leeuwen, J. F. N., Schaefer, H., van der Knaap, W. O., Rittenour, T., Björck, S., Ammann, B. (2005). Native or introduced? Fossil pollen and spores may say – an example from the Azores Islands. Neobiota, 6, 27-34. Retrieved from

https://www.researchgate.net/publication/233985292_Native_or_introduced_Fossil_polle n_and_spores_may_sayAn_example_from_the_Azores_Islands

Rull, V., Lara, A., Rubio-Inglés, M. J., Giralt, S., Gonçalves, V., Raposeiro, P., Hernández, A., Sánchez-López, G., Vázquez-Loureiro, D., Bao, R., Masqué, P., Sáez, A. (2017). Vegetation and landscape dynamics under natural and anthropogenic forcing on the Azores Islands: A 700-year pollen record from the São Miguel Island. Quaternary Science Reviews, 159, 155-168. doi: 10.1016/j.quascirev.2017.01.021

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