Foto identificação de cachalotes

Foto identificação
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Quando queremos entender um pouco mais sobre o comportamento e a ecologia de uma determinada espécie, é de extrema importância que se consiga identificar os diferentes indivíduos de um determinado grupo. A foto identificação surge assim como uma forma de solucionar este problema. O método pode ser utilizado nos cetáceos, tanto em baleias como em golfinhos, através do uso das suas barbatanas dorsais e caudais, visto que o contorno destes órgãos externos varia de indivíduo para indivíduo. A identificação usando marcas no corpo dos cetáceos começou por volta dos anos 70 em particular com golfinhos roazes (Tursiops truncatus), orcas (Orcinus orca), golfinho corcunda do Indopacífico (Sousa chinensis chinensis) e o golfinho rotador (Stenella longirostis).

Ao longo das suas vidas, os cetáceos vão tendo interações intra e inter-específicas, interações com objetos de atividades antropológicas tais como redes de pesca e hélices de embarcações, e até mesmo interações com o habitat onde se encontram. Estas interações podem resultar em danos nas barbatanas destes animais tornando-as irregulares e facilmente reconhecíveis através de padrões tanto de cortes como de cicatrizes que acabam por não sofrer alterações ao longo do tempo. Estas marcas servem então para estabelecer a identidade de um determinado indivíduo.

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Figura 1- Exemplo de um individuo fotografado nos Açores e mais tarde na costa irlandesa já em elevado estado de decomposição (créditos: Sean O’Callaghan).

Para além das barbatanas, também variações na pigmentação de indivíduos podem ser utilizadas para identificar. No que respeita, por exemplo, as baleias de bossa e francas, são o padrão de manchas das barbatanas caudais e dispersão de calosidades na cabeça respetivamente que são utilizados para identificar os indivíduos. A utilização de câmaras para fotografar estes animais acaba por ser um método não evasivo e por isso não perturba os animais.

Ao reunirmos a informação obtida pelos dados de foto identificação com outros dados podemos construir a história de vida de um indivíduo e também informações importantes sobre o tamanho da população, associações que surjam entre os diferentes indivíduos e o próprio habitat. Também os padrões de migração destes grandes animais podem ser obtidos através do uso deste método de identificação sempre que são conseguidas fotos do mesmo indivíduo em locais bastante distantes uns dos outros.

Ao associarmos os dados de foto identificação com dados de estudos de ecologia e comportamento podemos saber informações importantes da história de vida destes animais, tais como com que idade atingem a maturidade sexual e até mesmo com que intervalo de tempo nascem as crias.

O cachalote é considerado uma espécie residente nos Açores e os indivíduos podem ser reconhecidos ao longo do tempo através de dobras e cicatrizes nas suas barbatanas dorsais, mas principalmente nas suas barbatanas caudais. Uma pesquisa realizada entre 1988 e 1995 nas ilhas do grupo central estimou que o número de cachalotes não ultrapassaria os 2500 indivíduos através de uso da foto identificação.

Ao longo das nossas viagens os nossos guias, sempre que possível, fotografam as caudas dos cachalotes que são encontrados. Assim que estes animais mergulham em busca do seu alimento acabam por colocar as suas enormes barbatanas caudais verticalmente, momento este, em que se tona possível obter o material necessário para a foto identificação.

Essas fotos são no final da época reunidas e organizadas e só depois se torna possível começar o longo processo de comparação das diferentes caudas umas com as outras. As fotos retêm informação sobre a data e hora a que foram tiradas que juntamente com as coordenadas geográficas retiradas quando estas são tiradas, tornam possível criar uma escala temporal sobre as deslocações dos indivíduos.

Na Figura 2 podemos ver que se trata do mesmo indivíduo, mas em dias diferentes do mesmo ano 2022. Este cachalote foi visto e fotografado no sul da ilha de São Miguel, nos Açores, no dia 30 de Setembro e no dia 4 de Novembro. Conseguimos afirmar que se trata do mesmo indivíduo através da análise da sua barbatana caudal.  Ambas as fotos mostram um corte circular no lobo esquerdo e um corte redondo no lobo direito muito perto do nó central. Podemos ainda reparar nalgumas manchas mais claras em ambos os lobos que claramente correspondem em ambas as fotos. Através da análise de fotos como estas podemos construir uma escala temporal da sua permanência numa dada área geográfica.

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Figura 2- Barbatanas caudais de cachalotes. Assinalado com círculos laranjas (cortes nos lobos) e com quadrado amarelo (marcas na pele) estão identificadas as características que ajudaram a identificar este indivíduo.

Quando falamos em animais que são apenas visíveis por breves períodos à superfície, todo o material que se conseguir obter dos diferentes indivíduos é de extrema importância. É por esta razão que é importante continuar este tipo de trabalho para melhor compreendermos a vida dos cetáceos que continua em muitos dos casos um grande mistério.

Artigo escrito pelo biólogo Alexandre Branco da equipa Picos de Aventura.

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2 Comments

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