As Grandes Baleias no Combate às Alterações Climáticas

Grandes baleias
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Os nossos oceanos são dos sistemas mais afetados no que diz respeito às Alterações Climáticas. Com o aumento de concentrações de dióxido de carbono (CO2), aumento das temperaturas e o aumento da acidificação (devido à descida de oxigénio (O2)), os níveis médios do mar têm subido, levando ao aumento de risco de inundações de comunidades costeiras, induzindo outros tipos de impactos.

Para combater as Alterações Climáticas, um dos grandes problemas é encontrar formas efetivas para baixar os níveis de CO2. Ainda assim, mesmo que seja encontrada a solução para esta situação, surge o problema em arranjar fundos para suportar os custos. No entanto, a solução mais simples esteve sempre à nossa frente: aumentar as populações mundiais de baleias.

A caça à baleia comercial reduziu drasticamente o número de populações mundiais destas, sendo que os investigadores estimam que agora as populações estão reduzidas a ¼ do que eram. Por conseguinte, os benefícios que as Grandes Baleias nos poderiam estar a fornecer são muito menos do que poderiam ser se não fosse a caça à baleia.

As Grandes Baleias incluem todas as espécies de Baleias de Barba e também os Cachalotes. Durante toda a sua vida, estes animais acumulam carbono nos seus grandes corpos, abundantes em gordura e proteína. Cada baleia é capaz de reter, em média, cerca de 33 toneladas de CO2. Quando estes animais morrem, eles afundam, levando toda a quantidade de carbono absorvida na sua vida para o fundo oceânico, que fica retido durante séculos. As carcaças das baleias, para além de reterem o carbono, no fundo do mar elas fornecem habitat e alimento para outros organismos.

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Figura 1 | Esquema simplificado da importância das Grandes Baleias no combate às Alterações Climáticas (Adaptado de: Chami et al., 2019)

Quando procuram por comida, as baleias podem influenciar o ambiente físico dos oceanos, através do seu movimento vertical – mergulho e emersão – na coluna de água. Este movimento vertical, chamado de “Whale Pump”, pode aumentar o transporte ascendente de minerais e de águas profundas ricas em nutrientes. Apesar das baleias de barbas frequentemente se alimentarem perto da superfície da água, por vezes elas mergulham um pouco mais fundo para encontras zonas mais densas de peixe e de invertebrados.

Já os cachalotes, como se alimentam exclusivamente de presas do fundo oceânico (ex.: lulas gigantes), estão constantemente a realizar um movimento vertical. Desta forma, a transferência de nutrientes que ocorre no “Whale Pump” é simplificada por: alimentação em profundidade e libertação de fezes à superfície da água. As fezes libertadas por estes animais são ricas em ferro (Fe) e azoto (N), que são dois elementos essenciais na fertilização do fitoplâncton, aumentando a fotossíntese e, por conseguinte, a fixação de carbono.

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Figura 2 | Fezes libertadas à superfície da água por uma baleia Sardinheira (Foto: Gina Salazar).

Por outro lado, existe também um movimento horizontal chamado de Cadeia Transportadora das Grandes Baleias. Este movimento horizontal dá-se pela migração que estas baleias fazem pelo oceano, transportando nutrientes de altas latitudes – zonas e elevada produtividade (áreas de alimentação) – para baixas latitudes – pouca produtividade (áreas de reprodução). Os nutrientes são transportados através da ureia e fezes, ricas em Fe e N.

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Figura 3 | Esquema das migrações das baleias-de-bossa no mundo inteiro (Fonte: Annalisa Berta, 2015)

Esta transferência de nutrientes realizada pelo “Whale pump” e pela Cadeia Transportadora das Grandes Baleias, atua como fertilizante do fitoplâncton. Com o aumento da produção de fitoplâncton, há aumento da fixação de carbono, aumento da produtividade das águas e consequentemente maior abundância de presas. O fitoplâncton tem desta forma um papel importante nesta cadeia de nutrientes. Estes organismos contribuem pelo menos com 50% de oxigénio para a atmosfera e capturam em média 40% do dióxido de carbono produzido.

Apesar da contribuição das Grandes Baleias para os fluxos de carbono e nutrientes não ser muito grande, a recuperação contínua destes animais pode ajudar a controlar os ecossistemas marinhos, para além de que o seu efeito nos níveis de nutrientes pode ser importante para o funcionamento de ecossistemas locais e regionais, podendo aumentar a produtividade das áreas de alimentação e também de reprodução.

Desta forma, podemos concluir que esta solução de aumentar as populações de baleias não só beneficiaria a vida marinha, mas também a terrestre, incluindo a nossa.

Artigo escrito pela bióloga Gina Salazar da equipa da Picos de Aventura.

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One Comment

  1. Alexandru Stanescu

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