Teremos 1 ou 2 tipos de golfinhos roazes nos Açores?

Golfinhos Roazes nos Açores
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Os roazes apresentam uma distribuição mundial ocupando diferentes tipos de habitats adquirindo assim uma variação morfológica considerável. Apesar do nosso conhecimento taxonómico destas variações e da conectividade entre elas ainda ser limitado, tem sido reconhecido globalmente a existência de um ecótipo costeiro (in-shore) e um ecótipo oceânico (off-shore).

No Atlântico Sul ocidental, estes ecótipos têm sido descritos com base em fenologia e genética e também foram descobertas diferenças significativas entre várias populações costeiras e oceânicas no nordeste do Pacífico e no noroeste do Atlântico.

Os golfinhos oceânicos apresentam uma barbatana dorsal mais falcada e uma coloração mais escura. Os golfinhos costeiros apresentam 2 faixas mais largas na região da garganta e um rostro mais longo. Estes dois ecótipos apresentam ainda diferenças na preferência de habitat. Enquanto que o ecótipo costeiro prefere águas menos profundas que vão até os 18 metros de profundidade e que estejam a uma distância máxima de mais ou menos 7,5 km da costa, o ecótipo oceânico tem uma distribuição mais ampla e possui maior flexibilidade na preferência de habitat. Estes são encontrados tanto em águas costeiras como em águas mais profundas, em profundidades que normalmente vão dos 34m aos 750m e a mais de 34km da costa.

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Figura 1-Padrão de cores, de cima para baixo: dorso, barbatana dorsal e região ventral do ecótipo (a) costeiro e (b) offshore de golfinhos do sul e sudeste do Brasil. As setas indicam listras estreitas e faixas largas a saírem da garganta até à zona axilar dos ecótipos offshore e costeiro, respetivamente.

Como nos Açores temos águas profundas (>200m) muito próximas da costa, os limites batimétricos que normalmente são atribuídos às populações costeiras e oceânicas no Atlântico Norte não podem ser aplicadas neste caso.

Na zona oeste do Atlântico Norte análises mitocondriais e de ADN provaram a existência de diferenças a nível genético entre estes dois ecótipos assim como entre populações costeiras.

No entanto, contrariamente ao que é observado nos golfinhos pertencentes ao ecótipo costeiro, os golfinhos oceânicos conseguem manter níveis elevados de fluxo genético.

Após terem sido obtidas as sequências genéticas de amostras de roazes dos Açores e posteriormente comparadas com as sequências das populações da zona oeste do Atlântico Norte foi possível verificar que não existem diferenças significativas entre as primeiras e o ecótipo oceânico. Conclui-se assim que todos os roazes que ocorrem em zonas pelágicas do Atlântico Norte pertencem a uma grande população oceânica.

Uma outra forma de distinguir estas duas populações é através de padrões de residência, sendo que os costeiros tendem a ser mais residentes enquanto os oceânicos por norma são mais passageiros.

Apesar de os roazes estarem presentes durante todo o ano nos Açores, análises de foto-identificação mostram-nos que existem indivíduos que são avistados repetidamente na mesma área anualmente. Estes animais serão muito provavelmente residentes. Por outro lado, há indivíduos que são avistados muito raramente e que provavelmente são apenas visitantes ocasionais nas ilhas. Por esta razão poderíamos supor que existem duas populações presentes nos Açores, uma costeira/residente e uma oceânica/visitante.

No entanto, um estudo revelou que apenas existe uma população de roazes no arquipélago e que esta população não é significativamente diferente da população oceânica do noroeste do Atlântico norte.

Esta falta de diferenciação genética entre os supostos roazes costeiros nos Açores dos demais oceânicos não era de todo esperada tendo em conta:

– que estas duas populações são reconhecidas tanto no Oceano Atlântico como no Oceano Pacífico;

– os padrões de residência observados nesta região.

Os roazes presentes nos Açores pertencem então a uma só população oceânica (off-shore), apesar de serem encontrados em zonas costeiras. Estas informações contraditórias serão muito provavelmente uma consequência da topografia dos Açores, onde não existe qualquer plataforma continental e onde temos zonas de grande profundidade a começarem muito próximo da costa.

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